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24/02/2025
17/02/2025
O desafio de manter a saúde mental nas cidades (Renata Bomfim)
Informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que, em 2024, a população brasileira era de 212,6 milhões de habitantes, com mais de 80% das pessoas vivendo em cidades. A motivação para muitas pessoas mudarem das zonas rurais é variada: estudar, trabalhar, buscar melhores condições de vida. Há também pessoas que já nascem nas cidades e não sabem diferencia a vida urbana da vida rural. Atualmente, mais de metade da população mundial vive em metrópoles.
A migração urbana foi responsável por uma grande transformação ambiental e de sensibilidade social no decorrer da história, e nuca foi tão necessário questionar os espaços que criamos e como eles afetam as nossas vidas. Os campos verdes foram e continuam sendo trocados pelo cimento cinza e impermeável, os animais, geralmente naturais dessas áreas, se tornaram indesejáveis e o desequilíbrio se tornou uma regra de convivência com o natural. Moscas, mosquitos, morcegos, ratos, árvores, mato, e outros elementos que fazem parte do cenário natural se tornam verdadeiras dores de cabeça nos espaços urbanos. O desequilíbrio ambiental transformou muitos animais em vetores de doenças para os seres humanos e o avanço das cidades sobre as florestas continua abrindo possibilidades para o surgimento de novos vírus como aconteceu com o da COVID-19.
É certo que a cidade oferece certas comodidades aos cidadãos, mas a ciência aponta que essas facilidades cobram o seu preço. Pessoas que vivem nos centros urbanos estão mais propensas a terem ansiedade e depressão, tem afetados a memória e atenção, assim como correm o risco dobrado de desenvolverem algum tipo de transtorno emocional em relação às pessoas que vivem em zonas rurais.
Alguns aspectos da vida metropolitana favorecem as dificuldades emocionais: barulho, poluição, opressão social por conta da concorrência, medo da violência, sensação de não pertencimento, entre outros. Esse estresse social cotidiano não é bom para a economia psíquica,
Pesquisadores na Alemanha fizeram um estudo que evidenciou o quanto a pressão social da vida urbana compromete os circuitos cerebrais, e potencializam distúrbios emocionais. A instabilidade das emoções afeta a vida como um todo, especialmente as relações sociais. Muitas horas dedicadas ao trabalho, má alimentação, problemas como o sono, entre outras, tornam a pessoa mais propensa à doenças, além do mais, o estilo de vida da pessoa ajuda a moldar a sua subjetividade.
É preciso estar atento e buscar, em meio a tentas demandas diárias, fatores que possam ajudar a proteger a saúde contra muitos dos efeitos nocivos da vida citadina. Construir de uma rede de amigos, parentes, pessoas em que se confia, se acercar do natural, do verde, ter um animalzinho de estimação, ter plantas, visitar parques, ir a praia, buscar grupos de interesse, evitar o excesso de ruído e outros aspectos ambientais que podem levar ao desequilíbrio.
Atualmente, alguns arquitetos e projetistas já consideram o bem-estar emocional na hora de projetar espaços públicos, para que as cidades se tornem locais de convivência, de troca e fomente a resiliência. Mas, enquanto essa postura não se torna uma regra, cada cidadão pode buscar criar em torno de si espaços promotores de saúde. A busca é pessoal e intransferível, cada pessoa deve avaliar sua vida e buscar o que pode ser mudado para melhor, o que seria salutar enquanto rotina.
A terapia é uma ferramenta que pode ajudar nessa busca, pois, somos seres em movimento, capazes de promover mudanças e sempre a vida sempre pode surpreender com novos e melhores (re)começos.
Renata Bomfim
13/02/2025
Na contramão dos psicofármacos (Dra Renata Bomfim)
Ah!, já pensou se existisse um comprimidinho mágico que desse conta de resolver problemas, que desaparecesse com a ansiedade, fizesse o tempo parar, a dor... Infelizmente, existem milhares de ofertas de substâncias que prometem isso e muito mais, entretanto, esse caminho mais curto, ou "milagre" para a saúde e o bem-estar é verdadeiro, até porque o bem-estar não é algo monolítico, mas do campo da sensibilidade, portanto deve ser vista e analisada a partir desse prisma.
Utilizo o atalho como metáfora para explicar a questão sensível que é o psicofármaco. Não se trata de demonizar os remédios, até porque eles são uma grande conquista do ser humano, um exemplo do quanto a ciência pode contribuir para a saúde das pessoas. O que ponho em xeque aqui é o uso indiscriminado desses medicamentos. A falta de ânimo e motivação, por exemplo, queixas comuns nos consultórios, é um sinal de que a pessoa deve analisar o que está acontecendo com ela, tanto física, quanto psíquica e emocionalmente. É nesse momento que uma profusão de "soluções fáceis" aparecem.
Há casos em que a medicação é imprescindível, entretanto, o fato é que que há situações nas quais somente o remédio não dá conta, exemplo disso são as doenças psicossomáticas que demandam uma abordagem multidisciplinar e a adesão consciente da pessoa doente.
Volto a metáfora do atalho. Não há atalhos quando se trata da saúde, o desafio é pegar o melhor caminho, o caminho que, mesmo parecendo mais difícil, concede a alegria da conquista, um caminho de vivências de integração de aspectos do psiquismo.
Renata Bomfim