Mulheres, fios, linhas e histórias singulares:
O
Bordado, assim como a tecelagem, é um fazer que, historicamente, remete às
mulheres, mas que na contemporaneidade tem se tornado um instrumento de
expressão artística denunciadora da opressão às mulheres.
A pesquisadora Michele Perrot, na obra Minha história das mulheres (2007) nos diz que, no século XVII “ainda se discutia se as mulheres eram seres humanos, como os homens, ou estavam mais próximas dos animais irracionais”, e foi apenas cerca de trezentos anos depois que o considerado segundo sexo passou a ter direito à educação, sendo que o direito para entrar em uma universidade levou bem mais tempo. Foi no século XX, mais precisamente na década de 70, com os estudos feministas, que a história das mulheres passou a ganhar a importância devida e a ser contada por elas próprias e por um viés descolonial.
Essa Oficina de bordado não é apenas para mulheres, também acolhe homens que tenham interesse pela arte, mas o seu foco de abordagem é feminino/feminista e mistura contos, histórias, poesias, relatos, etc. Imaginemos que cada uma de nós é um fio, uma linha, com uma cor, textura, espessura, e que juntas, daremos forma a um tapete inédito e extraordinariamente lindo. Quebrar uma linha é muito mais difícil quando ela está amarrada, urdida com outras linhas. Esse é o sentido dos nossos encontros. Vivemos em pais onde a justiça social ainda não foi alcançada, onde as mulheres ainda sofrem variados tipos de violência e lutam contra preconceitos e contra a invisibilidade. Nesse sentido, qualquer coletivo que faça os silêncios serem rompidos é valioso, pois, como diz Perrot (2007), “as mulheres são imaginadas, representadas, em vez de serem descritas ou contadas”, ou seja, cada relato é preciso e será acolhido com respeito e afeto.
Essa Oficina de Bordado livre é lúdica e possui um caráter terapêutico no sentido em que cada participante terá a sua voz ouvida através de suas criações e de seus relatos. Amor, sexo, maternidade, alegrias, esperanças, casamento, vida e morte são temas que serão abordados e bordados nos nossos encontros. A Arte nos fala de figuras femininas que tramaram histórias fabulosas: Ariadne, filha do Rei Minos, ajudou o herói Teseu a sair do labirinto do Minotauro, para tal, utilizou um novelo de linha que, esticado, serviu ao jovem como guia; Penélope tecia e destecia uma colcha enquanto esperava Ulisses voltar da guerra; as Moiras, para os gregos e, Parcas, para os romanos, divindades poderosíssimas que eram responsáveis pelo fio da vida são alguns exemplos.
O bordado, além de
ser uma forma de compartilhamento do sensível, ajuda a desenvolver competências
cognitivas que envolvem o planejamento do trabalho, do tempo e o refinamento
estético na composição de formas e cores. Essa arte se alimenta da
oralidade e do compartilhamento, reforçando o campo do comum e
rompendo com o isolamento. VENHA BORDAR COM A GENTE!