11/02/2025

Evelhescentes merecem assistência e respeito! (Renata Bomfim)



Acho bonito como se diz "pessoa idosa em espanhol": "personas mayores". Abrasileirando a palavra, "maiores" contrasta com a forma como muitas pessoas acima de 60 anos se sentem em uma sociedade na qual, geralmente é visto como um fardo e por isso é diminuído e negligenciado. A constituição garante direitos, no que se refere ao cuidado integral, para pessoas idosas, visando que tenham um envelhecimento ativo e saudável. 

É fato que a "envelhescência", ofereça desafios e demande cuidados, mas qual a fase da vida que não propõe desafios e nem demande cuidados? A desnaturalização da velhice é uma construção cultural ocidental que faz com muitas pessoas vejam o processo de envelhecimento como sendo o final  e não como o início de algo novíssimo, e que pode ser experimentado como "inaugural".

"Morrem cedo aqueles que os deuses amam", diz a célebre frase, o que pressupõe que só chega na velhice quem conseguiu driblar a indesejada das gentes. Florbela Espanca, minha poetisa favorita, morreu aos 36 anos, por isso não tenho como saborear seus poemas maturados pelas vivências que uma vida longeva proporcionaria, mas posso saborear os versos de Adélia Prado: "Hoje estou velha como quero ficar,/Sem nenhuma estridência./Dei os desejos todos por memória/ e rasa xícara de chá". 

A poetisa Cora Coralina, que aos 14 anos de idade escrevia poemas, obteve o reconhecimento e publicou o primeiro livro somente na maturidade. Cora disse em uma entrevista: “Eu não tenho medo dos anos e não penso em velhice. E digo para você, não pense. [...]. Eu não digo que estou velha, e não digo que estou ouvindo pouco. É claro que quando preciso de ajuda, eu digo que preciso. Procuro sempre ler e estar atualizada com os fatos e isso me ajuda a vencer as dificuldades da vida. O melhor roteiro é ler e praticar o que lê. Também não diga pra você que está ficando esquecida, porque assim você fica mais". Essas e outras mulheres e homens nos dão uma visão da riqueza que as pessoas na envelhescência tem a transmitir ao mundo. Infelizmente, não há como ignorar a situação de muitos idosos que, sufocados pela penúria financeira, pelo abandono e por problemas familiares adoecem sem uma rede acolhimento e apoio e por essa situação não conseguem dar a sua contribuição singular à sociedade.

O estado precisa cumprir a constituição e assistir ao(a) idoso(a), bem como, os atendimentos na atenção básica e outros sistemas assistenciais, precisam contar com práticas terapêuticas que respeitem a  individualidade, limites e incentivem a sua autonomia. Os envelhescentes devem ter a sua disposição espaços que fomentem a cooperação, a reflexão e a criatividade, onde possam expressar sentimentos, desejos, ansiedades e, mais que tudo, espaços alimentadores de sonhos e novos planos. 

Desde a minha formação tenho trabalhado para que essa nova clínica se torne uma realidade, mas esse tipo de atendimento deve se disseminar e ele já é uma realidade em muitos lugares, especialmente no SUS, que presta serviços de qualidade. Que sejam assim todos os espaços destinados a lidar com esse grupo tão diferenciado e que merece todo o carinho e respeito.

Renata Bomfim