Espaço Terapêutico dedicado a promoção e cuidado da saúde mental, a partir de uma perspectiva ecológica, decolonial e criativa.

23/04/2015

A importância da biblioteca na comunidade Terapêutica e do Projeto EJA e CEEJA na CT: experiência em CTs Capixabas (Dra. Renata Bomfim)


A aceitação dos textos literários gerada pelas Rodas de Leitura Reflexiva nas comunidades terapêuticas capixabas, − entre gestores, técnicos e acolhidos −, possibilitou que, em janeiro de 2015, dessemos início ao projeto Biblioteca na CT.

O projeto Biblioteca na Comunidade objetivou a estruturação de uma biblioteca, com espaço para estudos, em cada CT. Caso não fosse possível a estruturação da biblioteca, seria estruturado um ponto de leitura.

Designamos “biblioteca” uma sala destinada, exclusivamente, para livros e revistas, CD e DVD, folhetos, dispostos ordenadamente para estudo e consulta. E  “pontos de leitura” espaços compartilhados que abrigam estantes com livros, revistas, CD e DVD, etc., dispostos ordenadamente, permitindo a consulta e o estudo.

A Biblioteca é um espaço aberto, democrático e informativo com o poder de potencializar o tratamento do dependente químico. Ela possibilita a ampliação de horizontes e a aprendizagem das pessoas por meio do conhecimento, amplia a competência linguística (oral e escrita), além de possuir comprovado potencial terapêutico que pode ser observado na pacificação das emoções e promoção de um estado reflexivo que amplia o autoconhecimento levando a pessoa a rever os seus valores, passo essencial para a mudança de comportamento.

Juntamente com o processo iniciado de estruturação das bibliotecas e pontos de leitura nas comunidades, demos prosseguimento às Roda de leitura reflexiva, promovendo também, saraus literários, quando variadas obras literárias eram apresentadas aos acolhidos. Havia a leitura de textos poéticos e em prosa, acompanhada por música e outras expressões artísticas.

Durante a estruturação das bibliotecas e dos pontos de leitura, aproveitamos para fazer um levantamento dos acolhidos que ainda não eram alfabetizados, e dos que ainda não haviam completado o ensino fundamental para iniciar o interprojeto “EJA na comunidade”.

O programa Educação de Jovens e Adultos, mais conhecido pela sigla EJA, teve início na década de 1990. Ele é o resultado do avanço de variados projetos educacionais implantados no Brasil em décadas anteriores, entre eles o “Mobral” a “Fundação Educar”. O EJA é uma modalidade de educação básica nas etapas do ensino fundamental e médio que possui especificidades conforme a Lei 9394/96, que estabelece as diretrizes e bases para a educação nacional. A Educação de Jovens e Adultos (EJA), de acordo com o Caderno de Diretrizes de Educação de Jovens e Adultos[1](2007, p. 17), da Secretaria de Educação do Espírito Santo/SEDU, propõe que o EJA atenda a “um público ao qual foi negado o direito à educação, durante a infância e/ou adolescência”, por algum motivo,

sujeitos sociais e culturais, marginalizados nas esferas socioeconômicas e educacionais, privados do acesso à cultura letrada e aos bens culturais e sociais, comprometendo uma participação mais efetiva no mundo do trabalho, da política e da cultura (2007, p. 17).

A educação dos dependentes químicos em recuperação, nas comunidades terapêuticas é de extrema relevância para o tratamento dos mesmos, é uma ação que vincula-se de forma irremediável ao mundo do trabalho e às práticas sociais. 

É sabido que a educação é dever do Estado e da família, entretanto, a realidade com a qual nos deparamos no Centro de Acolhimento para Pessoas com Dependência Química do ES, mostra uma fragilidade nas relações familiares dessas pessoas, ao passo que aponta o potencial que o ambiente da CT possui de oferecer ao acolhido um local propício à aprendizagem, para que esse recupere o interesse em aprender, possa fazer cursos, adquirir uma profissão e, de forma ativa, participar do seu processo de reinserção social.

 A RCD29, de 2011 preconiza o desenvolvimento, junto aos dependentes em recuperação, de “atividades que promovam o desenvolvimento interior”, bem como, “atividades de estudo para alfabetização e profissionalização” e atividades que visem “a reinserção social do residente”. Dessa forma, acreditamos que o projeto “Biblioteca na Comunidade”, com os seus interprojetos (Roda de leitura reflexiva, Sarau na comunidade e EJA na comunidade) respondem a essa proposição.

Após o levantamento da escolaridade dos dependentes em recuperação em cada comunidade, há a possibilidade de estabelecer parceria com o município no qual a comunidade terapêutica está inserida, com vistas a montar os grupos de estudo.




[1] Disponível em:<http://www.educacao.es.gov.br/download/cartilha_EJA_final.pdf>. Acesso em 28 de jan. 2015.