SEMINÁRIO INTERSETORIAL PARA A FORMAÇÃO DE MULTIPLICADORES DE PREVENÇÃO AO USO DE DROGAS (HUMANIZAÇÃO E EFETIVIDADE DO TRATAMENTO)
AS OFICINAS TERAPÊUTICAS COMO INSTRUMENTOS LÚDICOS DE INTERVENÇÃO TERAPÊUTICA E DE HUMANIZAÇÃO NOS SERVIÇOS DE ATENÇÃO Á SAÚDE
Quero agradecer a Coordenação Estadual sobre Drogas (CESD) pelo convite, e aos amigos que prestigiaram o evento.
O meu percurso como profissional de saúde mental começou em janeiro de 1999, quando ingressei na oficina terapêutica de pintura do CAPS/ Ilha de Santa Maria, como membro do Programa de extensão da UFES, Cada Doido com Sua Mania/ CDSM. Nessa época eu era estudante de artes plásticas. Essa experiência marcou a minha vida, e desde então passei a direcionar a minha formação para campo profissional da saúde mental. A década de 1980 e 1990 foi de efervescência no campo da assistência à saúde mental, por conta da “reforma psiquiátrica” brasileira, movimento que culminou com a promulgação da Lei de Saúde Mental, em abril de 2001[1].
No Espírito Santo o Hospital Psiquiátrico Adalto Botelho, fundado em 1954, durante muito tempo reproduziu a realidade de outros manicômios brasileiros: era um depósito de gente, centro de exclusão. Séculos de funcionamento dos manicômios mostraram que esse modelo asilar e excludente inviabilizava as ações de humanização e, posteriormente de melhora dos indivíduos e, consequentemente, tornava praticamente impossível a reinserção social dos mesmos. A necessidade de se resgatar a cidadania do dito “louco”, fez com que nesse período um grande escopo de práticas e saberes se desenvolvesse: assistimos ao nascimento de uma nova clínica, na qual a loucura não é o lado avesso negativo da razão, antes, uma outra forma de subjetividade que foge ao padrão considerado “normal”. Um breve olhar sobre as oficinas terapêuticas no Espírito nos remete, irremediavelmente, para o trabalho pioneiro do Programa Cada Doido Com a Sua Mania, do qual fiz parte entre os anos de 1999 e 2007. Esse programa nasceu no centro de Psicologia da UFES e convocou psicólogos, artistas, arquitetos, advogados, e outros campos do saber para integrar a rede de atenção de saúde mental capixaba. O CDSM ingressou no Hospital Adalto Botelho em 1984, nessa época, o projeto se chamava “Grupos operativos” (Atendimento individual, entre outros). Em 1886 o grupo inseriu aos grupos operativos as oficinas terapêuticas com pacientes internados e 1992 passou a ser chamado Cada Doido Com Sua Mania, o Adalto Botellho ofereceu Oficina de Pintura, de eventos, entre outras. O CDSM, desde sua criação, trabalhou por uma clínica cujas práticas interdisciplinares gerassem uma cultura profissional mais humanizada e adequada ao contexto da saúde pública articulada à formação profissional em diferentes níveis, a saber, ensino, extensão e pesquisa. Com o fim do contrato entre a Universidade Federal do Espírito Santo e o Governo do Estado, o CDSM sai do Hospital Aldalto Botelho para, junto com a equipe de saúde mental da Prefeitura Municipal de Vitória/ SESA, estruturar o primeiro CAPS capixaba: o CAPS Ilha de Santa Maria, fundado em 1996, em Vitória. O CAPS é um modelo de assistência substitutivo ao modelo hospitalocêntrico representado pelos manicômios. Nele o paciente passa o dia e a noite volta para casa. O CAPS Ilha de Santa Maria foi uma escola para mim, e essa experiência estruturação e realização de oficinas terapêuticas seriam enriquecidas nos demais serviços por onde passei, a saber, o Ambulatório de saúde mental para crianças e adolescentes, no Hucam, que tinha como objetivo ser o primeiro CAPSi do ES; o Centro de Atenção para Crianças, Jovens e adultos, CACIA/ UFES, quando a clínica da psicose se abriu para a da neurose. Em 2007 as oficinas terapêuticas de poesia realizadas com diferentes grupos despertaram o desejo conhecer mais profundamente esse campo da linguagem, o poético, ingressei então no mestrado de letras da UFES e, em 2010, no doutorado de letras, intervalo temporal no qual a minha prática com oficinas terapêuticas se diversificou. Atualmente desenvolvo as oficinas terapêuticas no Mosteiro Zen Morro da Vargem, em Ibiraçu/ES, no ESTARTE e em organizações públicas e privadas.
No Espírito Santo o Hospital Psiquiátrico Adalto Botelho, fundado em 1954, durante muito tempo reproduziu a realidade de outros manicômios brasileiros: era um depósito de gente, centro de exclusão. Séculos de funcionamento dos manicômios mostraram que esse modelo asilar e excludente inviabilizava as ações de humanização e, posteriormente de melhora dos indivíduos e, consequentemente, tornava praticamente impossível a reinserção social dos mesmos. A necessidade de se resgatar a cidadania do dito “louco”, fez com que nesse período um grande escopo de práticas e saberes se desenvolvesse: assistimos ao nascimento de uma nova clínica, na qual a loucura não é o lado avesso negativo da razão, antes, uma outra forma de subjetividade que foge ao padrão considerado “normal”. Um breve olhar sobre as oficinas terapêuticas no Espírito nos remete, irremediavelmente, para o trabalho pioneiro do Programa Cada Doido Com a Sua Mania, do qual fiz parte entre os anos de 1999 e 2007. Esse programa nasceu no centro de Psicologia da UFES e convocou psicólogos, artistas, arquitetos, advogados, e outros campos do saber para integrar a rede de atenção de saúde mental capixaba. O CDSM ingressou no Hospital Adalto Botelho em 1984, nessa época, o projeto se chamava “Grupos operativos” (Atendimento individual, entre outros). Em 1886 o grupo inseriu aos grupos operativos as oficinas terapêuticas com pacientes internados e 1992 passou a ser chamado Cada Doido Com Sua Mania, o Adalto Botellho ofereceu Oficina de Pintura, de eventos, entre outras. O CDSM, desde sua criação, trabalhou por uma clínica cujas práticas interdisciplinares gerassem uma cultura profissional mais humanizada e adequada ao contexto da saúde pública articulada à formação profissional em diferentes níveis, a saber, ensino, extensão e pesquisa. Com o fim do contrato entre a Universidade Federal do Espírito Santo e o Governo do Estado, o CDSM sai do Hospital Aldalto Botelho para, junto com a equipe de saúde mental da Prefeitura Municipal de Vitória/ SESA, estruturar o primeiro CAPS capixaba: o CAPS Ilha de Santa Maria, fundado em 1996, em Vitória. O CAPS é um modelo de assistência substitutivo ao modelo hospitalocêntrico representado pelos manicômios. Nele o paciente passa o dia e a noite volta para casa. O CAPS Ilha de Santa Maria foi uma escola para mim, e essa experiência estruturação e realização de oficinas terapêuticas seriam enriquecidas nos demais serviços por onde passei, a saber, o Ambulatório de saúde mental para crianças e adolescentes, no Hucam, que tinha como objetivo ser o primeiro CAPSi do ES; o Centro de Atenção para Crianças, Jovens e adultos, CACIA/ UFES, quando a clínica da psicose se abriu para a da neurose. Em 2007 as oficinas terapêuticas de poesia realizadas com diferentes grupos despertaram o desejo conhecer mais profundamente esse campo da linguagem, o poético, ingressei então no mestrado de letras da UFES e, em 2010, no doutorado de letras, intervalo temporal no qual a minha prática com oficinas terapêuticas se diversificou. Atualmente desenvolvo as oficinas terapêuticas no Mosteiro Zen Morro da Vargem, em Ibiraçu/ES, no ESTARTE e em organizações públicas e privadas.
A arte contribui para uma clínica mais criativa, fundamentada num olhar menos comprometido com a patologia e mais implicado com o humano. As Oficinas Terapêuticas são ferramentas privilegiadas de intervenção e tratamento terapêutico que estão ao alcance de todos, e que junto a outros serviços permitem uma cobertura mais ampla, não somente do paciente, mas também de sua família. Atividades que possuem um caráter desinstitucionalizante, as oficinas terapêuticas se ligam a um paradigma diferente do dualista cartesiano que marcou a sociedade e se refletiu em vários campos do saber humano. Nesse novo paradigma, os indivíduos buscam se reconhecer como BIOPSICOSSOCIAIS e espirituais, ou seja, seres que inter-relacionam suas partes psíquica, física, social e espiritual. As ações desenvolvidas nesse serviço devem, fundamentalmente, passar pelo caminho da inserção dos pacientes,
1. Acredito que o marco primeiro da oficina terapêutica é que seja um espaço dialógico de acolhimento e de livre expressão.
2. O trabalho coletivo, o agir, o pensar, o refletir a partir de uma lógica inerente ao paradigma psicossocial, na qual a diversidade, a subjetividade e a capacidade de cada indivíduo é respeitada, são alguns dos objetivos das oficinas terapêuticas.
3. Os encontros nas oficinas devem produzir relações horizontais e de aprendizagem a partir das quais, pacientes e equipe, devem ter como foco o desenvolvimento da autonomia do paciente, passo importante para que esse se reconheça como cidadão (alguém com nome, com data de nascimento, com direitos, inclusive direito ao sonho, e não mais um número na estatística, uma patologia, “lá vem o bipolar”). O sociólogo Zigmunt Bauman, pesquisador dos fenômenos sociais contemporâneo, destacou que somos: “uma sociedade de consumidores”, vale destacar que as oficinas terapêuticas são uma forma de resistência ao sistema social vigente de consumo, elas colocam o individuo no mundo da produção, tanto de algo (documento plástico terapêutico), quanto de si mesmo. Ou seja, torna possível uma identidade outra.
4. O trabalho a partir do campo simbólico permite a transformação da realidade objetiva, campo propício para a expressão da singularidade e subjetividade.
5. Durante as oficinas os pacientes interagem uns com os outros e com os materiais e técnicas.
6. O s conflitos internos e externos podem se projetar a partir do material, e a partir daí podem ser elaborados: os afetos podem ser catalizados.
7. Essa prática propõe facilitar, por meio das múltiplas possibilidades da arte, a expressão da singularidade e da subjetividade, num espaço de convivência, criação e reinvenção do cotidiano.
8. A oficina terapêutica não objetiva formar artistas, antes facilitar a expressão subjetiva dos seus participantes. Existem as oficinas de geração de renda, essas possuem objetivos específicos e importantes dentro dos serviços de saúde, pois, buscam capacitar os participantes em uma determinada prática, ou na produção de algo que pode ser comercializado, com vistas a que esse se insira no mercado de trabalho, e ganhe alguma autonomia (entre elas a econômica).
9. Busca-se empoderar a pessoa por meio das práticas artísticas, enriquecê-la a partir da troca de conhecimentos, para que desenvolva uma postura crítica que o leve a tomar as melhores escolhas para a vida.
10. Essa prática é lúdica, envolve o brincar e o aprender, ela é também catártica e, segundo a psicanálise, possibilita uma suplência subjetiva, ou seja, permite que o sujeito encene algo no plano simbólico, para que não seja necessário que o faça no plano real. Estudos mostram que a representação não é uma mentira, e nem uma ilusão, antes, ela é uma realidade outra que lança o produtor/expectador em um mundo intersticial, paralelo, onde tudo é possível, até mesmo as grandes mudanças de rumo na vida.
Obs: As oficinas devem resguardar essas características para que não se tornem um serviço de “ocupação do tempo”, mais uma “tarefa a ser cumprida”, por isso os pacientes devem ser partícipes de todas as etapas do trabalho, e deve-se evitar “programar” as atividades, essas devem ser flexíveis (case “Arte de viver”)
[1] Lei nº10.216, de 6 de abril de 2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental.
Fomos presenteados com a apresentação do coral do Instituto Sócio-Educativo do Espírito Santo. E deixo aqui o meu carinho aos colegas que dividiram comigo a mesa durante a tarde: Laelio Loureiro Del Pupo, da Comunidade Nova Perspectiva; Silvestre Falcão Santana, da Comunidade "Pequena Comunidade Jesus" e Clesio de Oliveira Venâncio, que apresentou os novos arranjos que estão possibilitando a melhora da Assistência à saúde em Cariacica. Meu abraço carinho, também, aos amigos Juliene, Robson, Norlen e a nova amiga Helena de Arruda Penteado, da "Rede Abraço".