Enquanto pesquisadora que trabalha a partir das linhas feminista e pós-colonial, acredito que qualquer prática social deve partir do reconhecimento da alteridade e do diálogo. Durante muito tempo assistimos instituições de saúde , especialmente as de saúde mental, tratar os portadores de transtorno mental grave como objetos, destituindo-os dos direitos mais básicos e retirando deles qualquer possibilidade de autonomia. Faço minha a pergunta dos pesquisadores e psicólogos William Miller e Stephen Rollnick da Universidade do Novo México (Estados Unidos), que desenvolveram o método da Entrevista Motivacional (EM):
Onde foi que erramos? Como foi que passamos a acreditar que certo tipo de ser humano apresenta uma condição única que exige que utilizemos confrontação agressiva se desejamos ajuda-lo? Como se tornou possível, justificável e a aceitável nos valermos de tais táticas hostis para o tratamento de certos comportamentos de dependência [e/ou] no tratamento da maior parte dos outros problemas médicos e psicológicos?
A intervenção terapêutica deve levar o paciente a examinar e aceitar a realidade, por mais desconfortável que se apresente no momento. Muitos desanimam por considerar os problemas intransponíveis e daí resulta o desânimo e o sentimento de derrota. Vale destacar que a motivação não deve ser pensada como um traço da personalidade, antes, ela é um “estado de prontidão para a mudança” que pode ser influenciado.
Os pesquisadores Prochasca e Carlo Di Clemente criaram um modelo que permite avaliar os fluxos de mudança do paciente, eles a denominaram de Roda da mudança e ela possui cinco ou seis estágios, sendo que o ponto de partida para a mudança (ainda fora da roda) se chama “Pré-ponderação”, ou seja, aquele momento em que a pessoa sente que necessita realizar alguma mudança na sua vida. Após esse reconhecimento, a pessoa entrará na roda da mudança no estágio da “Ponderação”. Logo que adquire um grau mínimo de consciência do problema a pessoa passa a ponderar, o que gear um estado de ambivalência, ou seja, de confusão, mas esse estágio é natural, faz parte do processo. Nesse momento, o papel do terapeuta é “ajudar a balança a inclinar para o lado da mudança”, o que faz com que o paciente avance para o estágio conhecido como “Determinação”.
A balança oscilará, certamente, entretanto, no estágio da determinação o terapeuta deve utilizar um conjunto de estratégias terapêuticas para que o paciente avance para o estágio reconhecido como de “Ação”, no qual esse engaja-se em ações específicas para chegar a uma mudança significativa. Qualquer mudança deve ser sustentada, sendo que muitas vezes a roda gira e acontecem os deslizes e as recaídas.
A "Manutenção" da mudança exige que o paciente desenvolva habilidades específicas, se não o fizer as recaídas podem ser recorrentes. A "Recaída" deve ser encaradas como natural, ou seja, ela faz parte do processo e acontecerá até a pessoa consiga criar estratégias pessoais que lhe permitam dar conta da situação que pode ser o estopim do retrocesso. Uma das habilidades que devem ser desenvolvidas é a "Autoeficácia", que pressupõe a capacidade que uma pessoa possui de acreditar em si mesma e que a mudança é possível!
Há alguns anos a Entrevista Motivacional (EM) integra o grupo de abordagens que utilizo nos atendimentos terapêuticos. A ênfase dos criadores da EA está na preocupação não com o poder do terapeuta, mas, com o poder do paciente. Esse pensamento coaduna com o da arteterapia que foca no que há de saudável no indivíduo, ao invés no que há nele de adoecido, com vista a potencializar o processo de cura. A entrevista motivacional passou a ser difundida na década de 1980 e desde veio se fortalecendo e evoluindo a partir da complexidade da relação terapeuta-cliente. Os destacaram que essa abordagem pode ser utilizada em variados espaços sociais que oferecem atenção à pessoas e grupos.